quinta-feira, 20 de agosto de 2009

O Mal Onipresente - A Inveja

CÓDIGO

A inveja. Nunca está sozinha. Seus companheiros inseparáveis são o complexo de inferioridade, a vergonha, a frustração e a amargura. Melanie Klein afirmava que a inveja era um dos sentimentos humanos mais primários e fundamentais.
Se a inveja é de fato inevitável, não precisa ser necessariamente uma tortura para quem a experimenta. Reconhecer a inveja é admitir a inferioridade, porém, pode também ser o primeiro passo para amadurecer e superar essa inferioridade.
Inveja empresarial
Quem nunca sentiu aquele sabor amargo ao saber que um (ex-) colega foi promovido? Perdoamos tudo, menos o sucesso. Como a umidade e o mofo, as estruturas hierárquicas, o personalismo, o culto ao poder e a ideologia do sucesso fornecem as condições necessárias para o surgimento e a propagação da inveja. Ela não está apenas nas empresas: universidades, sindicatos e grupos de psicanalistas também não escapam. Mais sofisticado o meio, mais sofisticada ela aparece. Muda a forma, mas o conteúdo permanece o mesmo.
É uma sensação democrática e onipresente. Atinge a todos ao mesmo tempo. Ela bate de forma diferenciada nas pessoas e cada uma reage a sua maneira. A circularidade é sua marca: o trainee inveja o gerente, que inveja o presidente, que, muitas vezes, gostaria de ser apenas um jovem trainee. Nas empresas, como na sociedade, as "vítimas da inveja" podem ter diferentes comportamentos. Alguns simplesmente ignoram o incômodo sentimento, esforçando-se para convencer a si próprios que não padecem da vil sensação. Outros desvalorizam-se e rebaixam-se a mais reles condição de incompetência. Idealizam o invejado, colocando-o acima de suas possibilidades. Outros trocam a inveja pela raiva e tentam vingar-se do invejado. Transformam-se de vítimas em algozes e cercam seu objeto de desejo com críticas e maledicências. Mas nem todas as maneiras de lidar com a inveja são negativas.
Abordagens construtivas também são possíveis. Usar o objeto de inveja como fonte de inspiração para o autodesenvolvimento é uma forma positiva de lidar com Ela. O primeiro passo a ser dado é reconhecer o sentimento e eliminar atitudes negativas: admitir que algumas realidades da vida são imutáveis e parar de desejar o que não se pode ter. De certa forma, a inveja constitui uma camada protetora que pode nos isolar da aceitação de nossos limites e de nossas impossibilidades. Rompê-la pode ser um processo muito duro. Pode também ser o começo de um processo de amadurecimento e levar a superação de barreiras e limites.
Entre os indivíduos, ou nas empresas, a inveja deve mesmo ser encarada de frente. Há alguns anos, Patricia Amelia Tomei, professora da PUC- Rio, realizou uma pesquisa com empresários, executivos e professores universitários sobre a inveja nas organizações. Os resultados concluíram que o brasileiro não precisa ter complexo de inferioridade quanto a inveja: somos tão invejosos quanto qualquer outro povo. Porém, se o sentimento é o mesmo, o jeito com que ele aqui se manifesta adquire tons próprios. Mais estruturada e hierarquizada a sociedade, maiores as condições para a inveja destrutiva. Herdeira direta do modelo “casagrande e senzala” de colonização, a inveja tupiniquim é alimentada por nossas carências econômicas, sociais e culturais.
Outro resultado interessante da pesquisa é que escondemos nossa inveja. Em muitos países, manifestar inveja é como expressar admiração: reconhecer um trabalho bem realizado ou o sucesso merecido. No Brasil, a inveja é quase sempre negativa. Em terra brasilis, o invejoso deve remoer sua dor as escondidas. Enquanto isso, o invejado senta-se a sombra das majestosas palmeiras e ouve o canto dos sabiás, ostentando sua riqueza material, sua pobreza cultural e sua
miséria ética - protegendo-se do “mau-olhado” com ramos de arruda. Impondo limites. Será possível gerenciar a inveja nas empresas? Segundo Patricia, sim: porém, não se trata de tarefa simples. Fora os casos patológicos de inveja perversa, existem estratégias possíveis que podem gerar mudanças e reduzir o nível de inveja. Para agir com sucesso na organização, é preciso compreender sua dinâmica e fazer uma leitura cuidadosa da cultura organizacional. É necessário entender os valores e crenças mais arraigados na empresa, que definem sua identidade e forma de agir. Estratégias e medidas preventivas podem ser postas em prática para reduzir comportamentos que alimentam a inveja. Sublimada, neurótica ou perversa, destrutiva ou construtiva, a inveja faz parte da experiência humana. Nas empresas e na sociedade, o contrário da inveja é a justica. Nos indivíduos, a inveja tem muitos contrários: a generosidade, o desprendimento e a vontade de desenvolver-se. Se a inveja é a homenagem que a inferioridade tributa ao mérito, superá-la e celebrar a possibilidade de vencer essa inferioridade e pavimentar o caminho da virtude.

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